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10/05/2024

Abraão e o GPS

 


Abraão nunca aceitara bem aquele filho nascido fora de tempo. Quando o Senhor lhe anunciou que ia ser pai, Sara já tinha alguma idade. Como podia ainda gerar descendência?

Sara tivera uma série de abortos espontâneos. O ambiente insalubre em que toda a gente vivia no século XXI, não ajudava. A carne estava carregada de hormonas, o peixe, de mercúrio e outros venenos, as verduras, de agrotóxicos e chumbo dos fumos de escape. Aquela estada em terra estrangeira também fora traumática. Fora vítima de violação e sabe-se lá se apanhara alguma doença. Depois de todas as provações, e já sem esperanças, veio aquela voz pausada e grave anunciar-lhe o que parecia impossível:

«Corta o teu prepúcio e daqui a um ano serás pai» — ordenara a voz do Senhor, em tom assertivo, vinda do telemóvel desligado.

Abraão não percebeu porque é que o prepúcio vinha ao caso — embora tivesse lido umas coisas sobre DST na Internet —, mas obedeceu e nasceu Isaac. Inacreditável; o Senhor prometera e cumprira, não havia dúvidas. Quase tão inacreditável foi a criança nascer com aqueles caracóis ruivos que não existiam na família. Por isso, Abraão sempre olhou o filho de través. «Crê e viverás!» — ameaçou Ele, certa vez, em voz austera vinda do robô de cozinha. Isso foi fácil. Abraão tinha vontade de acreditar.

A psicologia já vai tentando explicar — sem grande aceitação —, como é que o imaginado toma conta do racional e docilmente o conduz pelos meandros de efabulações puramente mentais, como se fossem eventos acontecidos. O pensamento desejoso, que entretanto foi dominando Abraão, teria talvez origem na sua convicção de que Isaac não era seu filho, e aliciava-o com a possibilidade de ele ser filho do Senhor. Mais valia que Isaac fosse filho de um ser sobrenatural, do que de algum vizinho dissimulado. Ser trapaceado nesta matéria por alguém próximo ou amigo de casa era intolerável.

Com o tempo, nem tal estratagema mental concedia ainda descanso. Já andava Isaac pelos onze anos quando o Senhor, usando a voz modulada de Celestino, na aplicação de GPS do telemóvel, comunicou a ordem fatídica:

«Vai à Peninha, constrói um altar sobre a Pedra da Visão e imola o teu filho Isaac.»

Abraão não resistiu muito, nem perguntou porquê. Se era o Senhor que mandava… Como sempre, a ordem não o constrangia e até vinha ao encontro de um pensamento acarinhado, mas mantido íntimo, e explicável talvez por essa animosidade escondida para com Isaac. Mas não deixava de ser uma ordem. Mandava-o matar o filho, num ritual de adoração comandado pelo próprio Senhor e não iria contra ela. Nem contra essa, nem contra nenhuma outra.

Dias depois, muito cedo, Abraão obrigou o filho a sair da cama e a acompanhá-lo. Numa mochila, meteu uma faca de cozinha, um isqueiro piezoelétrico e uma caixa de acendalhas ecológicas. Na bagageira do Jeep, já tinha uma saca de lenha do Aki.

Meio ensonado, Isaac demorou a estranhar a excursão matinal, até porque o pai, não sendo madrugador, de vez em quando tinha assim repentes inesperados.

«A 400 metros, entre na rotunda e saia na segunda saída» — dirigia Celestino, do telemóvel que Abraão fixara no interior do para-brisas.

Aonde vamos, pai?

Abraão não respondeu. Não gostava de ter de se explicar.

Pai! — insistiu Isaac.

Tá calado! Vamos ver o teu avô ao lar da Azóia. Mas primeiro passamos na Peninha, para ver a vista.

A esta hora? Com este nevoeiro? Porque é que a mãe não veio?

Seguiam então pela estrada secundária junto a Barcarena, quando Isaac deu um grito:

Cuidado! Pai!

O que foi? — assustou-se Abraão.

A ponte não está lá… Para, pai!

«A 200 metros vire à esquerda e entre na ponte!» — comandava impávido Celestino.

Estás parvo? É do nevoeiro! Não ouviste o que o Senhor disse? — ralhou Abraão, abrandando.

E tu não viste as placas? Para!

Arre, que é chato! Queres saber mais do que o Senhor?

Para, já! — gritou o miúdo, muito mais alto do que alguma vez gritara com o pai.

Abraão parou. Através da neblina matinal, nada de anormal parecia haver com a ponte. Saíram do carro e aproximaram-se do que devia ser a balaustrada. Afinal, era só um resto. Antes, uma grande placa horizontal, derrubada por algum carro por sobre uns blocos de cimento esbranquiçado pela geada, avisava: “Ponte destruída. Utilize a variante de Leceia”. Aproximaram-se mais. Lá em baixo a água rosnava irada e inquietante.

Tás a ver pai, eu não te disse? Havia placas de perigo desde lá atrás.

Mas o Senhor…

O GPS? É uma máquina, pai! Nem sequer está online. E há quanto tempo não o atualizas? Queres que eu te ensine a tirar isso da net?

Está atualizado — resmungou Abraão, desconfortável. — Tem-me dado bons conselhos. Confio mais no Celestino, como lhe chamas, do que nos mapas.

Ia-nos tramando de vez...

«Vire à esquerda e entre na ponte!» — continuava Celestino.

Ajustado o itinerário e ultrapassado o conflito motivado pelas condições rodoviárias, pai e filho seguiram o seu destino, sob o conselho sábio de Celestino:

«O abate deve ser rápido e a sangria total, conforme o procedimento ritual». Abraão atrapalhou-se, mas Isaac não pareceu aperceber-se. Ia entretido com o seu próprio smartphone, mas atento a se o pai não se enganava no caminho.

Em menos de meia hora, passaram a Malveira da Serra e chegaram à Peninha. O tempo continuava encoberto, mas já se avistavam pedaços da costa e do Cabo da Roca. Abraão pegou na mochila e na saca de lenha e chamou Isaac. Sobre uma rocha que culminava um esporão do barrocal, e depois de uns gestos rituais que aprendera, Abraão dispôs os cavacos sobre as acendalhas e começou a acender o lume.

Pai, o que estás a fazer? Uma fogueira aqui, sem a mãe, à hora do pequeno almoço... E o entrecosto? O que se passa contigo? — disparou Isaac, apreensivo.

É um sacrifício, uma ordem do Senhor. Não posso desobedecer.

Pai, foste outra vez aos saca-dízimos?

Não, rapaz, foi o Senhor mesmo que me disse para te imolar — anunciou Abraão em voz grave, enquanto tirava a faca da mochila.

Embora aterrorizado, Isaac acionou as três teclas de emergência-criança do seu smartphone, que ele sabia que enviavam um pedido de socorro e as coordenadas do aparelho.

Vais-me matar? O teu filho? — choramingou.

Tu não és meu filho. Basta olhar para essas melenas vermelhas!

Em estupefação, Isaac hesitava entre tentar fugir e argumentar. Nesse momento, o seu telemóvel começou a vibrar. Abraão arrancou-lho das mãos e atirou-o para a ribanceira de penedos.

Isaac nunca tinha visto o pai assim. Virou-se para fugir, mas a manápula do pai agarrou-o.

Larga-me, pai! Larga-me!

Já disse que não sou teu pai. Tá quieto! Eu tenho de oferecer este sacrifício ao Senhor, para que eu encontre graça diante d’Ele, me proteja e me torne feliz.

Tás louco, pai. HELP! Que conversa é essa? Essa voz do telemóvel são só gravações. Não é nenhum sábio, nenhum deus — gritava Isaac, tentando ganhar tempo como única saída do labirinto do medo. — Os primitivos é que sacrificavam animais e pessoas. Pensavam que assim tinham mais caça ou colheitas. Estamos no século XXI, pai!

Não quero ouvir mais tretas desta sociedade que não respeita os valores da tradição e da família — ripostou Abraão, enquanto arrastava o filho para junto da fogueira que já ardia bem. Tolheu-lhe os movimentos e dobrou-lhe o pescoço sobre a parte mais lisa da pedra.

Nesse momento, ouviu-se o sibilar característico de um drone, que deu uma volta larga, mas rápida, sobre os penhascos da Peninha. Era de tipo octogonal, tinha envergadura de um metro e apresentava câmaras e vários outros instrumentos apontados para baixo. Um altifalante berrou:

«Largue a criança. Já!»

Abraão não esperava esta interferência. Tentou prosseguir. O altifalante do drone, que agora pairava a uns quinze metros sobre o grupo, voltou à carga:

«Pare já ou disparamos!»

Larga-me, pai! Cuidado! Eles disparam! — gritou Isaac.

Abraão levantou a faca, mas, antes de desferir o golpe fatal no pescoço de Isaac, foi atingido por um dardo junto à clavícula. O efeito do entorpecente foi imediato. Deixou cair a faca, oscilou uns segundos e afundou-se no chão pedregoso. Isaac afastou-se do volume do pai, aliviado, mas meio confuso. Chegou-se à beira do rochedo e espreitou lá para baixo, tentando localizar o smartphone. Quinze minutos depois, chegou a Polícia e o Socorro médico. Duas estações televisivas de atualidade criminal chegaram logo a seguir.


Joaquim Bispo

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Por seleção em concurso literário, este conto integra — páginas 104 a 107 — a 18ª edição (novembro/dezembro de 2019) da Revista LiteraLivre, em formato e-book:


https://issuu.com/revistaliteralivre/docs/revista_literalivre_18__edi__o


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Imagem: Javier López Molano, Sacrifício de Isaac, 2011.

Saatchi Art

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10/07/2023

Na Praia do Osso da Baleia

 


Naquela altura, praticávamos geocaching, para tornar o exercício ciclista mais motivador. Ir à procura das caixinhas escondidas em locais aprazíveis, ou só curiosos, através da sua localização GPS, obrigava-nos a pedalar para chegar aos locais indicados no respetivo site da Internet, mas sem a carga de exercício físico obrigatório que o andar de bicicleta tinha tido até então. Isto, porque pedalávamos, quase diariamente, uma dezena de quilómetros, não tanto pelo gosto, mas para manter alguma forma física, aconselhável a um casal sexagenário.

Naqueles dias de férias, a nossa base era a Praia de Vieira de Leiria, uma localidade muito animada, em época de veraneio, mas que naquele meado de um setembro invulgarmente nebuloso, mesmo para aquelas paragens litorais, perdera parte do bulício habitual. No primeiro dia, fomos à procura de uma cache escondida junto ao parque de campismo da Praia de Pedrogão. Era um pequeno tupperware com um boneco pokemon e um caderninho minúsculo — coisa de miúdos. Assinámos: “Rolling biker 56” o meu nickname e “Fiftie Agnes” o da minha companheira Inês.

No dia seguinte, fomos para sul, para encontrar, junto ao farol de São Pedro de Moel, num buraco da falésia em que pescadores amadores se empoleiram para lançar as linhas ao mar, uma caixa de VHS com três florinhas secas e um pequeno texto: «Este farol chamado “do Penedo da Saudade” foi construído no promontório onde, segundo a lenda, a duquesa D. Juliana Máxima de Faro, dona destas terras, vinha, através destas flores chamadas “Saudades” e que só aqui crescem, relembrar o marido, mandado executar pelo rei D. João IV, por traição, no século XVII.» Assinámos também o registo, conforme a norma.

No terceiro dia, rumámos a norte, para a zona da Lagoa da Ervedeira zona bonita e ainda arborizada, felizmente poupada aos grandes incêndios de 2017. Não foi fácil encontrar a cache escondida num pinhal, uns quilómetros depois. Até aonde a vista alcançava, a paisagem, que acompanhava a ondulação arenosa do solo, era um mar lúgubre de pinheiros queimados, com os seus braços negros e nus pedindo clemência. Com eles, ardeu, provavelmente, a caixinha que procurávamos. Decidimos que só podia ser um resíduo plástico calcinado que encontrámos no local que as coordenadas GPS indicavam, junto a um tronco queimado. Como passava pouco das três da tarde, resolvemos continuar para uma cache escondida na Praia do Osso da Baleia, a uns doze quilómetros, segundo indicava o GPS.

Pedalar com um objetivo definido é bem mais fácil do que fazê-lo para cumprir um número de quilómetros vagamente combinado. Como, além disso, as autarquias dotaram toda aquela zona costeira de ciclovias ao longo das estradas principais, o nosso exercício podia ser um passeio aprazível, apesar do céu nublado; infelizmente, o aspeto desolador da paisagem acabrunhava-nos. Os pinheiros, já de si retorcidos por ação dos ventos marítimos, assim reduzidos a troncos negros sugeriam formas espectrais inquietantes. Pedalávamos calados, de olhos no ecrã de GPS, lançando olhares apreensivos à multidão tétrica e torturada que nos envolvia.

Entretanto, lembrámo-nos do crime horrendo que aconteceu naquela mesma praia há uns trinta anos, em que um tipo, aparentemente normal e integrado, matou a mulher, a filha e mais cinco amigos com quem estava a confraternizar na praia. O que fará alguém enlouquecer de um momento para o outro? Que transtorno mental invadirá o cérebro de uma pessoa e a fará não reconhecer os seus próximos, ou, reconhecendo-os, odiá-los ao ponto de os matar à machadada? Ainda que incomodados com a evocação, decidimos que não havia, atualmente, nenhum motivo para evitar aquela praia e falhar o nosso objetivo.

A Praia do Osso da Baleia não tem uma povoação associada, não tem um restaurante nem um bar, nada. Pelos vistos, não passa daquela enorme extensão de areia, na altura, nevoenta, apoiada por um pequeno parque de estacionamento, então, deserto. O GPS fez-nos subir a duna baixa que nos separava da praia e caminhar uns trezentos metros para sul, mas nada havia ali, além de areia, naquela base de duna a cem metros da água. No entanto, o localizador por satélite era claro: «Chegou ao seu destino!».

Depois de uma inspeção mais atenta, descobri uma pequena ponta negra a emergir da areia. Ali comecei a escavar com o canivete suíço, que anda sempre comigo. Não tardou que embatesse em algo rígido, que retiniu. Parecia um antigo frasco de compota ou de azeitonas e estava enterrado no que poderiam ter sido os restos de uma fogueira. Olhámo-nos sem dizer nada, a apreensão no olhar.

O interior era visível e mostrava apenas o que parecia uma pequena placa óssea. Abrimos o frasco e percebemos que a placa estava esgrafitada. Consegui ler: «Nós que aqui estamos», de um lado e «por vós esperamos», do outro.

O choque destas palavras tão simples, mas tão simbólicas, que aparecem escritas em cemitérios e “alminhas” um pouco por todo o país, foi brutal. Naquele momento, por coincidência, correu uma brisa fria e pareceu-nos que o nevoeiro se adensou. A Inês recuou dois ou três passos, o olhar em pânico. Eu larguei aqueles objetos, como se queimassem, a tentar racionalizar. «Que raio! Quem teria feito uma maldade destas? Brincadeira estúpida!»

Quero ir-me embora — articulou, por fim, Inês.

Estúpidos! — resmunguei eu, enquanto pegava no braço dela e nos encaminhávamos para a estrada.

Na parte norte da praia, avistámos a vaga imagem de um grupo de seis ou sete pessoas, que pareciam sentadas e reunidas em círculo, talvez à volta do início de uma fogueira. Não as tínhamos visto ao chegar, mas aquela visão de normalidade reconfortou-nos. Ver membros da nossa espécie num local inóspito transmite-nos um sentimento de segurança, de solidariedade potencial. Passou-me pela cabeça, momentaneamente, a ideia de nos aquecermos um pouco, antes de partirmos, porque a temperatura tinha caído fortemente. Uns metros andados, pareceu-nos que olhavam para nós. Para quebrar o desconforto, acenei-lhes. Não responderam.

Quero-me ir embora! — acentuou Inês.

Tem calma!; está tudo bem — tentei eu sossegá-la, mas pouco convencido.

Nesse momento, levantaram-se dois ou três vultos e começaram a dirigir-se para nós.

Calma! Não dês a entender que tens medo — disse eu, para travar a minha parceira que apressara muito o passo.

Entretanto, calculava distâncias, apesar do nevoeiro cada vez mais cerrado. Nós estaríamos a duzentos metros da passagem da duna, mais cinquenta até às bicicletas. Eles estariam a uns trezentos metros da passagem da duna. Com passo ligeiro chegaríamos antes deles, sem problema. Além disso, não tínhamos razões para temer ameaças vindas daquelas silhuetas, embora escuras. Era só uma questão de prudência. O homem pode ser a salvação de outro homem, mas também pode ser a sua perdição. E, em locais ermos, uma pequena diferença de força ou de número pode transformar os homens em predadores brutais. Impregnados de “selva”.

Nessa altura, levantou-se vento vindo de norte. Empurrava-os a eles e travava-nos a nós. Procurei conter o pânico, mas Inês já tentava correr, sem grande êxito. Chegámos à passagem, quando os três desconhecidos, com os outros mais atrás, já pareciam demasiado próximos, mas sem conseguirmos distinguir-lhes as feições. Então, já gesticulavam e gritavam. Ou assim parecia, por causa do vento.

Corremos para as bicicletas e arrancámos, desvairados, Inês à frente e eu, sem olhar para trás, concentrado na pedalada. Durante aqueles metros iniciais de inércia da bicicleta, ouvi distintamente as pancadas dos pés deles, em corrida, mesmo atrás de mim.

Acelera, Inês — gritei, apavorado. — Se me apanharem, foge tu!

Eu sabia que lhe apetecia gritar e chorar, mas aguentou uma pedalada vigorosa, durante centenas de metros, demonstrando um sangue-frio notável. Aos poucos, para minha grande surpresa, as passadas pesadas dos nossos perseguidores deixaram de se notar. Ouvia-se só o som soprado do vento nos troncos calcinados, a abafar o ruído “textural” dos pneus no asfalto vermelho. Olhei, enfim, para trás, mas só discerni o trilho deserto da ciclovia. Talvez uma hora depois, estávamos no quarto do hotel.

Raramente voltámos a falar daquele anoitecer na Praia do Osso da Baleia. Não sabemos o que vimos ou o que pensámos que vimos. Não faço ideia do que veria, mas tenho para mim, que, se naqueles momentos iniciais da fuga me tivesse distraído um momento a olhar para trás, não estaria aqui para contar.


Joaquim Bispo


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Por seleção em concurso literário, este conto integra (páginas 112 a 114) a coletânea MIRAGE — Miscelânea de Narrativas Irreais, do projeto “Delírios” do coletivo editor Coverge, Curitiba, Brasil:


https://pt.scribd.com/document/409016246/Mirage-Miscelanea-de-Narrativas-Irreais


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Imagem: Iberê Camargo, Ciclistas, 1989.

Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil.


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