
Miguel Ângelo, Crepúsculo, Alvorada, Túmulo de Lourenço de Médici, Florença, 1524–1534.
Alvorada
O
mundo era ermo e inóspito. Os pedregulhos erguiam-se crispados,
sobranceiros à aridez de um mar de dunas. As areias estendiam-se,
cálidas e mortíferas, até ao horizonte. O céu, ofuscante de
branco, não concedia qualquer matiz, em toda a abóbada exposta. Só
o Sol ardente, a pique, presidia sobre as coisas inanimadas.
Então,
nos interstícios da rocha calcinada, numa brecha ínfima, por uma
singularidade improvável, formou-se uma gotícula de orvalho, uma
nesga de sombra....