Para
Duarte, domingo era dia de passeio cultural, fosse qual fosse a
disposição de ânimo. Desde que se separara da mulher, podia
arrastar-se toda a semana pela casa, de pijama e sem banho, mas, aos
domingos, impunha-se arranjar-se e sair. Naquele domingo de início
de maio, resolveu ir até Belém e seguir o impulso do momento.
Começou por entrar no Centro Cultural de Belém. Percorria a
exposição temporária “1968: O Fogo das Ideias”, quando foi
interpelado por uma morena muito jovem — de talvez uns trinta e
poucos anos — que não reconheceu de imediato:
— Duarte!
Há quanto tempo! O que tens...
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10/12/2023
10/08/2021
As mulheres da Ourela
Em 10.8.21
por joaquim bispo

As
mulheres da Ourela são o amparo da casa. Robustas e determinadas,
ganharam admiração e proteção das deusas primordiais. A sua
aldeia fica encravada entre montes atulhados de pinheiros nas faldas
da serra da Gardunha, onde só é possível cultivar estreitas leiras
junto ao pontos mais profundos dos vales. Por isso, sempre tiveram de
obter complemento económico fora da pequena agricultura de
subsistência. Às vezes, em atividades inesperadas e até longe da
sua terra. São vistas desde sempre a carregar pesos à cabeça. Em
grupo, em rancho. Decididas, caminhando e equilibrando os carregos,
balançando...
10/03/2020
O cavalo que queria ser famoso
Em 10.3.20
por joaquim bispo

Era
uma vez um cavalo que vivia em Pádua. Servia como montada de um
capitão do exército, e o que se vai contar passou-se há muitos
anos, quando as guerras eram feitas com cavalos e espadas.
Certo
dia, quando o cavalo estava no tronco para ser ferrado, entrou um
ladrão no recinto. O meliante, que vinha armado, levantou um ferro
para bater na cabeça do ferrador. O cavalo assustou-se, e, como
ainda não estava com as patas presas, pregou um valente coice no
assaltante, que foi abater-se contra um muro. O ferrador ficou muito
agradecido e disse ao cavalo:
— Vou
cravar-te, no casco da pata...
10/07/2018
A Estátua sem Rosto
Em 10.7.18
por joaquim bispo

O
que se conseguia ler no folheto pisado e rasgado que parou aos meus
pés era apenas «(…) mingo,
5 (…) inaugur (…) praça D. Moniz (…) stát (…) rei (…)»,
mas foi o suficiente para eu perceber do que se tratava, dada a
proximidade de eleições e algum conhecimento do que acontece em
tais épocas: as autarquias desdobram-se em melhoramentos,
apressam obras que estiveram paradas durante anos e anunciam
inaugurações.
Ribeira
de Velas, onde vivo, não é exceção. A minha rua estava virada do
avesso havia dois meses. Máquinas
e brigadas de operários criavam espaços de estacionamento,
repavimentavam...
10/04/2018
O suplício de Pigmalião
Em 10.4.18
por joaquim bispo

Com
um pedaço de barro se fez o Homem — diz o texto antigo.
Com
uma porção de pasta de moldar encho as mãos. Amasso-a entre dedos
e palma, longamente. Aquece, amolece, como massa de pão. A tepidez
potencia a impressão de textura de pele. Sinto que não há nada
mais sensual.
A
pasta revela-se infinitamente moldável, maleável, modelável.
Obedece docilmente aos movimentos não pensados das minhas mãos.
Sem
que as procure, surgem-me formas anatómicas. Como não, se vivemos
rodeados delas, nos seres, nas pessoas? Crio espessuras,
rotundidades; ensaio estiramentos.
Surgem
cabeça, tronco,...
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