
No verão, Damião passava o dia na
ribeira. Um fio de água, um charco aqui outro acolá; para os seus
quinze anos, era o paraíso na Terra. Caçar pássaros com a fisga
não passava de pretexto para andar descalço pelas areias
sussurrantes, sob a sombra de amieiros e salgueiros. Raios de sol
penetravam nas densas ramagens, mas não conseguiam alterar o frescor
da proximidade da água.
Silêncio não havia, tampouco ruído.
Sons naturais eram a melodia do local: rumorejos das copas verdes,
cicios do fio de água em algum socalco entre pedras, um ou outro
chilreio. Ao longe, o som cristalino das campainhas...