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10/11/2025

A outra

 


Numa noite de início de primavera, Nely Flores enganava o tédio jogando nas slot-machines do casino do Estoril, quando avistou, por entre os rendilhados pintados dos vidros da sala, Galhardo e a esposa, que saíam de braço dado da sala de espetáculos. Todas as noites passava ali duas ou três horas, apostando moedas nas máquinas rigorosamente programadas para a derrotar. Quando o fim do mês se aproximava, tinha de se conter. Para fazer render, jogava a aposta mínima e introduzia as moedas, uma a uma, em vez de mandar carregar a máquina com um determinado valor. Por vezes, limitava-se a bebericar um Alexander no bar do foyer. Ao ver o seu amante com a legítima, gloriosa num vestido comprido rosado, suspendeu o gesto de carregar no botão da máquina, como se tivesse ficado paralisada. Uma profunda névoa de tristeza toldou-lhe o olhar, enquanto via o casal afastar-se. Com a dor na alma, recolheu as quatro ou cinco moedas da bandeja da máquina e dirigiu-se para o bar. Pensativa, desta vez pediu um uísque de malte, tentando atordoar a mágoa que a feria visceralmente.

Não havia direito! A si é que amargava a boca, com o amor de Galhardo, e a consorte é que desfrutava da sua companhia e se exibia a seu lado. A princípio, fora bom. Ele tinha sido generoso e subsidiara a publicação de autor do seu livro. Eram dezasseis contos inspirados na sua experiência de modelo de moda e tinha o título genérico de “Poodles amestrados”. Conseguira impingir uma trintena de exemplares a familiares e amigos, mas a saída em livrarias fora pouco mais que simbólica. Na verdade, não era grande coisa como literatura, admitia. Deixava transparecer um certo ressentimento de fim de carreira.

Envolvera-se com Galhardo nessa situação de dependência de gratidão que os poderosos sabem aproveitar tão bem. E era atento e gentil. Depois de ir a casa dela algumas vezes, e em vista das suas dificuldades para continuar a dedicar-se exclusivamente à escrita, oferecera-se para ser o seu mecenas e deixara um cheque de mil e quinhentos euros. Desde então, um cheque de valor semelhante era deixado na última semana de cada mês. Às vezes, havia um reforço, a meio do mês, sobretudo pelo vício das slot-machines, que entretanto adquirira. Porquê? Morava perto do casino, permitia-lhe sentir que saía e via gente, e, provavelmente, mantinha-lhe uma esperança mal assumida de voltar a ser independente, desta vez pela sorte.

No primeiro ano, ainda fora acompanhante de Galhardo à República Checa e à Polónia, mas, desde então — e já iam quatro anos — nunca mais o acompanhara nas suas viagens de negócios. O contacto que mantinham limitava-se à visita de Galhardo, uma ou duas vezes por semana, nas quais, quase sempre, ele se contentava com um felatio.

Nely andava perto dos quarenta anos e, se não fosse por usar cabelos lisos, em vez de armados, podia dizer-se que era uma réplica da mulher de Galhardo, mais nova. Na verdade, também tinha formas mais generosas, sobretudo o peito. Segundo se lembrava, só uma outra vez tinha visto Galhardo e a mulher juntos, ao vivo. Fora um ano atrás, nesta mesma situação de saída do casino. Também dessa vez, Nely tinha ficado muito perturbada e invejara, como símbolo legitimador, a gargantilha de pedras azuis que dona Matilde ostentava. Nely reconhecera a gargantilha, pelo que tinha dito, algum tempo antes, a sua amiga Gina, que era esteticista no hotel Palace:

Sabes quem esteve ontem lá no salão? — a legítima do teu homem. Ainda rompe meias solas, a socialite! Estava toda elegante, com um colar de ouro, incrustado de pedras azuis. Com um colar daqueles, até eu havia de parecer uma grã-fina!

Nely não gostara da apreciação positiva feita pela amiga, e alardeara uma influência que não sabia se tinha:

Não digas a ninguém, mas ele comprou aquele colar para mim. Eu é que não o quis, porque a pedra do meu signo é a esmeralda, que é verde. O que fazia eu com um colar de pedras azuis?

Essa conversa era uma parte da razão para nunca pôr a gargantilha de safiras que ele, depois de muito pressionado, lhe oferecera.

Igualzinha, querido, tem de ser igualzinha! Não quero sentir-me discriminada. Já passo tanto tempo sem te ter ao pé de mim…

Na verdade, não tinha muitas ocasiões para a usar. Nem achava que fizesse o seu estilo. Era um bocado pesada de mais para a sua idade. Apresentava-se-lhe com ela posta, isso sim, nalgumas das vezes que ele a visitava.

Quanto mais pensava em todas estas recordações, mais deprimida se sentia. E o sentimento por aquela mulher que ocupava, de pedra e cal, um lugar que podia ser seu, era uma dor cortante no âmago do seu ser.

Desculpe, não é a Nely? — ouviu perguntar.

Ao seu lado, estava um homem entroncado e olhar intenso. Quando ela se voltou suficientemente, Albano não teve dúvidas de que era a sua antiga namorada, de há uns doze anos.

Nely, há quanto tempo! O que é feito?

Olá! Por aqui? Albano, não é?

Nunca mais te vi, desde aquela vez…

Pois, deixaste-me a secar!

Atrasava-me sempre, mas daquela vez devo ter exagerado… Nem voltaste a atender o telefone!

Sei que estás bem, que tens uma empresa de segurança, não é? Vi-te na televisão, quando foi dos tiroteios no Porto.

Queriam saber como era em Lisboa. Eles lá matam-se uns aos outros, pelo controlo dos contratos das casas de diversão noturna. Nós aqui temos a coisa dividida por zonas. Eu não me meto na zona dos outros e eles não se metem na minha. Não temos problemas.

Nely não soube em que momento tremeluziu no seu espírito uma centelha inspiradora, certo é que, em certo ponto da conversa sobre seguranças, e sobre o difícil e delicado que é lidar com homens duros, alguns, ex-cadastrados, Nely entreviu uma possibilidade de alterar o rumo da sua vida.

Também tens ex-assassinos na tua empresa?

Tenho de tudo. Isso não é problema. Só me interessa se sabem impor-se fisicamente, em caso de alteração da ordem, na casa noturna onde estiverem a prestar serviço.

Nely baixou os olhos, pensativa. Albano reconheceu nessa posição a longínqua imagem da amiga, com quem nunca chegara a vias de facto. Nely, após reviver por momentos o rancor que sentira há pouco, ao ver a sua rival, resolveu arriscar e aproximou o rosto do ouvido do ex-namorado.

Achas que consegues arranjar-me um fulano para um trabalhinho realmente sujo?

Albano hesitou um momento.

Sujo, como? Dar uma coça, partir as perninhas?

Apagar uma certa pessoa.

Albano quedou-se um pouco a contemplar o rosto decidido de Nely. Como estava diferente da jovem suave e um pouco tímida que conhecera anos atrás!

Caramba, Nely, não estou a reconhecer-te! Mas arranjo-te o que precisares. Deixa-me pensar! Olha, depois de amanhã, às onze, encontra-te comigo no miradouro da Boca do Inferno. Talvez já tenha alguma coisa para ti.


À hora combinada, chegou Albano. Nely, encostada à amurada do miradouro, fingia contemplar o infinito. Na verdade, controlava, discretamente, o acesso pedonal, um pouco insegura sobre quem apareceria. Albano cumprimentou-a e sugeriu o aconchego discreto de um banco de namorados incrustado na rocha. Foi direto ao assunto.

Nely, não chegámos a falar a sério sobre o que pretendes. Tens consciência de que é uma coisa muito grave e que deve ser rodeada de todas as cautelas?

Sim. O que queres dizer?

Sabes, não há operações perfeitas. Há sempre alguma coisa que corre mal, algum imprevisto. Tens consciência disto?

Nely acenou fracamente, sem dizer nada. Albano continuou.

Estás disposta a avançar, sabendo que, se der para o torto, somos todos envolvidos e presos, incluindo tu?

Estou — respondeu, endireitando o tronco e adotando uma expressão voluntariosa.

Ok! Então, é assim: há dois gajos que fazem isso, mas querem dois mil contos cada um. Vinte mil euros pelos dois. Estavas a contar com este valor?

Bem, sim! Eu não tenho esse dinheiro, mas tenho uma coisa que o vale. Uma gargantilha de safiras. Olha! — sugeriu, virando a abertura da mala de mão para ele. — Vale bem mais que isso.

Ok, talvez. Lembra-te que um recetador não dá o dinheiro que isso custou na loja. Mas vamos ver. Depois digo-te se chega. Agora, preciso de saber quem é o “feliz contemplado”.

Estás a ver o Galhardo dos vinhos? A mulher! — informou, estendendo uma revista do social a Albano. — É esta das fotografias.

Fihu! — assobiou Albano. — Não sei se os gajos vão querer. Logo se vê. Como é que ela se chama?

Matilde. Vive numa quinta em Sintra e dorme sozinha num quarto no rés-do-chão da casa. É fácil.

Tens pressa nisso? Tens algum método preferido?

Nely evocou a imagem da rival, radiosa, de colar a rodear o pescoço.

Enforcada! Pendurada por aquele pescocinho flácido. Assim que puderem.


Ainda nessa noite, Albano chamou ao seu gabinete os dois homens que tinham aceitado fazer o trabalho. Fora uma escolha acertada, à primeira.

Zezé; Bruno; já tenho os elementos que vocês vão precisar. É esta gaja — apontou, mostrando uma revista, em que avultavam fotografias de dona Matilde em várias divisões da sua casa de Sintra. — Vejam bem a gaja e as fotografias da casa, e estudem a localização aqui no Google Earth — adiantou, mostrando o ecrã do computador.

Chefe, já tem a “narta”? — quis saber Zezé.

Já! Tenho isto — asseverou, mostrando a gargantilha. — São pedras verdadeiras. Se levarem isto a Espanha, de certeza que conseguem mais de trinta mil euros. Vou cortá-la ao meio. Se aceitarem o trabalho, levam já metade. Quando acabarem, vêm buscar o resto. Pode ser assim?

Conte connosco, Chefe! — confirmou Zezé.

Se conseguirem sacar mais alguma coisa de valor lá da casa da gaja, é convosco. Até convinha, para parecer um assalto que se descontrolou. Mas, se trouxerem de lá alguma coisa, isso é material que queima. Tenham cuidado com ele. Não é como este.

Esteja descansado! Nós sabemos o que fazemos.

Claro. Era só para lembrar. Agora, queria ter uma conversinha muito séria convosco — explicou Albano. — A ti, Zezé, já te conheço desde os Fuzileiros. Sabes que um camarada nunca lixa outro. Se alguma coisa correr mal — e nestas coisas nunca se sabe o que pode acontecer — lembrem-se que é muito mais útil um amigo que possa fazer alguma coisa por nós, que um que esteja tão tramado como nós. O que eu quero dizer é o seguinte: se algum de vocês for preso, não lixe mais ninguém. Por um lado, eu ia negar tudo; depois, comigo cá fora, sempre vos posso contratar um advogado que valha alguma coisa. Fui claro?


No dia seguinte, Albano voltou a encontrar-se com Nely, para lhe dar conta da evolução do processo.

Está tudo tratado, Nely. Eles aceitaram o trabalho e o pagamento. Agora, é só esperar. Estou convencido de que vai correr tudo bem, que eles são homens de confiança. Por ti, deves fazer uma vida completamente normal, sem qualquer alteração, quer até ao dia D, quer depois. Nós próprios não devemos voltar a ver-nos, pelo menos sem deixar passar muito tempo e deixar arrefecer o caso.

És um querido! — regozijou-se Nely, dando um beijo na face de Albano. — Não sei como te agradecer!

Uma mulher bonita encontra sempre uma maneira de pagar um favor, se quiser — sentenciou Albano, com voz maliciosa.

Maroto! — protestou Nely, sorrindo.


Joaquim Bispo

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Este conto integra a coletânea Tempo de Vilões — resultante de concurso literário —, disponível na Amazon, em formato eBook Kindle. https://www.amazon.com.br/gp/product/B0BB52VNKX?fbclid=IwAR1GOZxMaC6Ka3Ae6NUGvQej0wTpM_UQ6ZN7bn8bpvBykJkP0XeUIn7nJr8

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Imagem:

Édouard Manet, Nana, 1877.

Coleção Hamburger Kunsthalle, Hamburgo, Alemanha.

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10/04/2023

Uma pedra no sapato de ténis

 

Casimiro Lopes começou a suspeitar de que qualquer coisa não estava bem quando, pela terceira vez, o seu parceiro habitual de ténis, Francisco Torrinha, deu uma desculpa para não fazerem a partida habitual. Não jogavam com muita regularidade — talvez de três em três semanas, muito longe das duas vezes semanais de uns anos atrás, quando ambos ainda estavam ao serviço da empresa —, mas era o suficiente para manterem a ilusão e a imagem de jogadores de ténis. Nem sequer eram grandes praticantes, apesar de jogarem juntos havia uns vinte anos. O ténis, agora, não passava de um pretexto para mexerem um pouco as articulações, calcificadas por tanto sedentarismo, e atualizarem o contacto.

Se, na primeira “nega”, Casimiro achou normal que o amigo não pudesse jogar por “ter de levar o carro à inspeção” e na segunda não pudesse, por andar “com uma dor lombar”, na terceira achou que as “compras no supermercado” bem podiam ser adiadas. Entre o surpreendido e o magoado, resolveu que não desafiava mais o amigo. Ele que telefonasse! Se a questão fosse circunstancial, Francisco haveria de arranjar um bocado da tarde para jogarem.

Passou-se um, passaram-se três meses e o telefone não cantou nenhum convite do amigo. Paciência! Casimiro é que não queria humilhar-se mais. Podia bem passar sem jogar ténis.

Quis o fado ou o diabo que Casimiro encontrasse um ex-colega da tropa, o Henriques, e chegassem à conclusão de que eram ambos jogadores de ténis a ressacar. E logo ali combinaram uma partida para o dia seguinte. Aziago dia esse!

Eram umas dez e meia, quando desceram dos balneários do Jamor para os campos de terra batida. O Henriques parecia jogar bastante melhor do que Casimiro, pelo que este se preparou para uma bela tareia. Na verdade, meia hora bastou para levar 6–2, na primeira partida.

Estavam a iniciar a segunda, com Casimiro a servir, quando este ouviu uma voz, seguida de uma risada, que muito bem conhecia. Estacou um momento, a determinar de onde vinha o som, e percebeu que vinha de um campo próximo, mas encoberto pelos arbustos de separação. Serviu, mas fez dupla falta. A seguir, meteu a bola na zona própria, mas um petardo do outro lado fê-lo ir buscá-la ao fundo do campo. Enquanto a apanhava, conseguiu espreitar por entre os arbustos e confirmar o que temia: Francisco Torrinha jogava ténis alegremente com outro tipo. E como se isso não bastasse, o outro era o Renato, o nojento Renato, o ex-colega de ambos que tinha das posturas mais irritantes na empresa. Irritante, manhoso e arrogante. Uma víbora com pernas.

O resto da partida correu ainda pior do que a primeira, se isso era possível. O sol queimava, a terra batida vermelha cegava, os olhos não conseguiam ver com precisão a trajetória das bolas. Quando a partida acabou com 6–0, Casimiro desculpou-se com o calor e voltaram aos balneários. Mais do que o calor, Casimiro já não aguentava a alegria que adivinhava no outro campo. Com o Renato!

O resto do dia não foi nada repousante para Casimiro. Pensou em mil e uma coisas que podia fazer, das mais vingativas às mais conciliadoras. A mais sensata, que acabou por prevalecer, quando, pelas três da manhã, o cansaço já se sobrepunha à raiva, foi a de confrontar Francisco com aquela facada nas costas.

No dia seguinte, foi esperá-lo à porta do infantário, aonde sabia que Francisco levava todos os dias a neta. Este não podia ter ficado mais surpreendido com a visita, mas pareceu a Casimiro que ele tentava disfarçar um ar comprometido:

Por aqui a esta hora? Pensei que a manhã era sagrada para ti!

Isso é um sarcasmo dos mais reles que já ouvi. Mais reles que isso é teres ido jogar ténis com o Renato — descarregou Casimiro, sem conseguir evitar o fel.

Mas o que é que estás a dizer? — ripostou Francisco, à defesa. — Quem é que te disse isso?

És capaz de negar na minha cara? Vá, diz; és? — faiscava Casimiro.

Sim, fui — admitia Francisco, vendo que não adiantava negar. — E daí? Qual é o problema?

O problema é que somos parceiros há vinte anos e ultimamente tens andado a evitar-me. E para quê? Para ires jogar com o mete-nojo do Renato! Com o Renato… Como é que foste capaz?

O que é que tem? Calhou! Encontrei-o no supermercado…

«Encontrei-o no supermercado» — repetiu Casimiro com voz de falsete. — Se te aparecesse o “Doninha” do Contencioso, também ias jogar ténis com ele, não? Agora vais com qualquer um? Não me admirava!

Ó Casimiro, qual é a tua? — aborrecia-se Francisco. — Mas, então, não posso ir jogar ténis com quem me apetecer? Era só o que faltava!

Pois, podes ir com quem te apetece, mas baldaste-te três vezes, quando te convidei. O que é que os outros têm a mais que eu não tenho?

Olha, por exemplo, estão dispostos a ir jogar de manhã, enquanto que tu…

Eu, quê? Se for o único período livre, posso ir de manhã. Ainda ontem fui — descaiu-se Casimiro — Tu é que nunca insististe!

Ah, tu podes jogar com outros e eu não posso! É essa a tua ideia de fidelidade?

Só fui porque tu nunca mais me ligaste. Assim, não! Também tenho sentimentos.

Ó Casimiro, não sejas assim! Não tem dado, mas podemos ir jogar um dia destes.

Amanhã? — apressou Casimiro, pela perspetiva de voltar a jogar com o amigo.

Eh, pá, amanhã não posso; tenho uma consulta no Centro de Saúde.

Eu não acredito que estava a ir na tua cantiga! — desesperou Casimiro. — Já percebi. Percebo até bem de mais. Sabes o que te digo? Vai-te catar! Eu não preciso de ti para nada. Se eu quiser jogar ténis tenho muito com quem.

Casimiro saiu de ao pé do amigo mais fulo do que nunca. «Falso!» — pensava para si. «Tu vais ver o que é bom...»

Daí a uns dias, tendo contactado um outro ex-colega que sempre conhecera como jogador de golfe, Casimiro deu as primeiras tacadas num campo de 9 buracos, num magnífico espaço dos arredores. Saboreando o imenso relvado tratado e a cavaqueira com este amigo que já não via há algum tempo, comprazia-se sobretudo na vingança que iria aplicar ao traiçoeiro Francisco, esfregando-lhe na cara o prestígio do golfe.

«Bem fria é que ela sabe bem!» — confirmou ainda nesse dia, ao publicar no facebook uma selfie com o amigo golfista, enquadrados numa esplendorosa paisagem verdejante, com um lago em fundo, de tacos na mão, felizes.

Joaquim Bispo

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Este conto foi um dos selecionados para a 38ª edição (março/abril de 2023) da Revista LiteraLivre, em formato e-book (páginas 64 a 67):

https://drive.google.com/file/d/1SVBk91JJrG2NmG9y3lGsmNRRakP1bHI8/view

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Imagem: Pintura mural no interior do restaurante anexo ao “court” central do Jamor, c. 1945 (?).

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