
Na altura,
a incriminação não era opção. O meu desejo mais profundo era
mesmo matar Estêvão Arunhos, um antigo mestre de obras e meu
vizinho do rés-do-chão. A antipatia vinha de há muito, logo desde
os primeiros encontros, quando me mudara para aquele condomínio. O
seu ar boçal e desdenhoso manifestava-se em comentários mordazes ao
meu modo de vestir, nos olhares irónicos, nos risos alarves, quando
me via acompanhado. Não havia razões de reparo, a não ser a sua
mentalidade retrógrada e fascista.
Durante mais de dois anos, revesti-me de
compreensão e paciência, acreditando que o tempo...