
O
pintor contemplava o retrato do juiz no cavalete e os seus olhos
teimavam em fitar o olhar incisivo do retratado, muito firme, muito
intenso. Parecia vigiar-lhe cada movimento. Era perturbador. O
cliente já devia ter ido buscar o quadro, mas não
havia maneira de aparecer. Júlio começava a ficar impaciente. Não
que o dinheiro lhe fizesse muita falta, mas o olhar do retrato
inquietava-o. Cada vez que o observava, parecia encontrar-lhe novos
aspetos fisionómicos. Como se tivesse vida. Era, sem dúvida, das
suas obras mais conseguidas.
Desde
novo que, nas suas mãos, as telas se povoavam...