10/03/2017

Como o Melro no seu Dragoeiro


O nome de batismo era Armindo, mas “Rolhas” foi o que passaram a chamar-lhe, desde que a namorada o deixou e ele começou a pedir rolhas ao senhor Mário do Estrela — um restaurante na calçada da Ajuda —, ninguém sabia para quê.
Desde pequeno, era um rapaz metido consigo, e o facto de ser muito magro e alto, também não ajudava a fazer amizades. O pai era carregador no mercado da Ribeira e a mãe vendia hortaliça, de manhã, na praça da Boa-Hora. Nem para uma coisa nem para a outra arranjaram, os pais, maneira de o entusiasmar. De vez em quando, a mãe conseguia que lhe dessem trabalho — carregador em lojas de móveis, moço de fretes em mercearias — mas rapidamente abandonava o trabalho, quando não era o patrão a dizer à mãe que o rapaz andava sempre nas nuvens e não dava conta do recado. Deambulava pelos bairros da Ajuda e do Caramão ou refugiava-se na mata de Montes Claros. Ou então, isolava-se na biblioteca do Centro Paroquial a ler poesia. Numa dessas vezes, escreveu nas costas do cartão de leitor:

Vagueio por um mundo que me não conhece
A minha alma anseia o além

Aí pelos dezanove anos, começou a namorar uma vizinha, a Alcina, que achava graça ao seu ar desajeitado. Sentavam-se aos domingos num banco do Jardim Botânico da Ajuda, debaixo de uma tília. Ele recitava-lhe pequenos poemas de Cesário Verde e ela sentia que não havia nenhum homem tão sensível como o Armindo. Numa dessas tardes, à sombra da tília, ele recitou-lhe um poema de sua autoria, como se fosse de Cesário, para ver se ela notava a diferença. Começava assim:

Olhaste-me graciosa e prazenteira
Como se eu fora de todos o mais nobre…

Ela não notou diferença, o que muito o envaideceu. Foi um namoro agradável e alegre, enquanto durou. Passado um ano, Alcina sentiu que a mesa não se ia guarnecer com poesia e passou-se para o filho do dono da serralharia do Altinho, com o qual casou pouco depois. Foi um rude golpe para Armindo. Alguns diziam que o moço desatinara e apontavam o facto de ter passado a andar sempre com um bolso cheio de rolhas de cortiça. Por essa altura escreveu numa carteira de fósforos:

O poema só brota nos peitos esfacelados

Uns meses depois, um tio, que trabalhava no Jardim Tropical, puxou-o para jardineiro. Tratar das plantas e dos canteiros, manter o jardim limpo, eram tarefas que lhe agradavam. O contacto com as plantas e os animais, a perceção dos seus ciclos, faziam-no sentir-se em comunhão com o mistério da Natureza. Escrevia:

Deixa a palmeira para a algazarra dos pardais
e a araucária para o bulício dos demais!
Na paz do dragoeiro faz, melro, o teu poleiro!

Quando ganhou experiência, encarregaram-no dos viveiros nas estufas, onde pôde e pode trabalhar sozinho, como gosta. Prepara as pequenas leiras de terra, semeia e cobre as sementes, identifica as plantações, rega as pequenas plantas quando germinam, transfere-as para vasos ou canteiros, quando atingem tamanho adequado, e cuida delas até serem mudadas para o ar livre.
Embora atento ao que faz, a sua mente arquiteta frases, avalia rimas e sonoridades, sobretudo ausculta o coração. Depois, à hora de almoço, senta-se num banco e verte, num caderno de papel colorido, o que o íntimo lhe inspira:

Todo o caule por minhas mãos tange.
Esgrimo da mandrágora o alfange,
o aloendro murmura e range.

Quando o dia de trabalho termina, dirige-se para a beira-Tejo, a jusante da estação dos barcos, com uma bolsa de lona a tiracolo. Senta-se no paredão e fica a contemplar o rio.
«Para onde irão todas estas águas? Alguém lhes marca o destino? Algo as aguarda?», são perguntas que lhe acodem ao espírito. «Como admiro a serenidade com que seguem, resolutas, na direção do sol-pôr! Lá longe, outros olhos de outros sonhadores nelas pousarão e delas colherão a beleza que eu vejo.»
Armindo tira então da bolsa uma garrafa vazia de vidro transparente, separa a folha de caderno com o seu pequeno poema, enrola-a, ata-a com um junco seco e introduz o rolo na garrafa, com cuidado. Num ritual sempre igual, tira do bolso uma das rolhas e veda a garrafa meticulosamente. Então, levanta-se e atira a garrafa ao rio, tão longe quanto a sua força alcança. Solene, fica a observá-la, primeiro com o gargalo a esbracejar, como se apelasse por socorro, depois num suave gesto de adeus e, por fim, a deslizar lenta e impercetivelmente, em direção ao mar.
À noite, antes de adormecer, com o “Só” de António Nobre à cabeceira, sente às vezes algo indefinível, como que uma sintonia com um espírito desconhecido, mas tão íntimo como si próprio. Gosta de imaginar que, lá longe, numa praia remota, alguém, vagueando ao sabor dos seus pensamentos solitários, encontra uma das suas garrafas e lê:

Penso em ti,
minha amiga, alma gémea, minha irmã.
Só e triste. Anseio por te conhecer.
Pensa em mim, assim nos vamos encontrar!

E adormece mansamente.

Joaquim Bispo

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Imagem: Júlio (dos Reis Pereira), Aguarela da série “Poeta”, 1939.
Coleção particular.

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Este conto, com o título “O Apelo”, obteve o 2º lugar na categoria “Conto de autor maior de 60 anos”, no XIX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista, de 2011 — Brasil.
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Com o título “Como o Melro no Dragoeiro” integra a coletânea resultante do Concurso Literário Nacional — ANE 50 anos — comemorativo dos 50 anos da Associação Nacional de Escritores — Brasil, 2012.
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10/02/2017

Silêncio


Todos chamavam Plantão ao louco da pequena vila do Sabugal. Calcorreava a povoação, descalço mas com garbo, como se medisse cada passada com exatidão. A última pessoa que lhe ouvira a voz, num dia mau de uns anos antes, desenganara-o:
— N'o há cá pão pa malucos!
Conhecido de todos, entrava nos cafés, avaliava os circunstantes e dirigia-se a um deles. Ficava a olhá-lo, sem dizer palavra, sem estender a mão, direito e parado. O visado, geralmente, puxava de uma moeda e dava-lha. Plantão recebia a moeda e retirava-se, com um ligeiro aceno de cabeça. E recomeçava a ronda. Dizia-se, sem ninguém conseguir confirmar, que tinha sido seminarista e tinha ficado enlouquecido entre os ditames da religião católica e os textos dos filósofos niilistas. Dizia-se.
Era uma figura que, pela sua presença constante, já não se estranhava e até se respeitava, na sua loucura serena. Mas, certa vez, aí por fim de janeiro, um rapazote de nome Inácio, querendo divertir-se à custa dele, trouxe um velho violino sem cordas que encontrara no sótão e deu-o a Plantão. Este ficou demoradamente a olhar para o instrumento, talvez relembrando antigas aulas de música, e passou a transportá-lo debaixo do braço. De vez em quando, sentava-se na berma do jardim, colocava o violino na posição de tocar e começava a menear a cabeça como se imaginasse as notas. E ficava lá horas esquecidas.
Foi desde essa altura, também, que o rapaz que lhe dera o violino, o Inácio, começou a desatinar, a dizer que ouvia música na sua cabeça e que era o Plantão que a provocava. Todos se riram dessas declarações e gracejaram, dizendo que estava a ficar mais louco do que o pobre Plantão.
No sábado de Entrudo, Plantão transformou-se. Talvez influenciado pelos vários mascarados que, sozinhos ou em grupo, percorriam as ruas da vila, dizendo pilhérias e fazendo momices, Plantão passou toda a tarde na rua principal, para trás e para a frente, a fingir que tocava, sem arco, o seu violino sem cordas. Toda a gente se surpreendeu com a transformação exuberante de Plantão, mas acharam-lhe piada. Os mais novos, vendo nele um alvo fácil, começaram a bombardeá-lo de longe com bolas de farinha e a esguichá-lo com pistolas de água, que ele parecia ignorar, mas foram rapidamente censurados pelos mais velhos. Pelo fim da tarde, surgiu Inácio, de rosto enlouquecido, a berrar para o Plantão parar, e a tentar arrancar-lhe o violino, intento de que ele se esquivava. A cena, de tão concertadamente burlesca, levava os transeuntes às lágrimas.
A pantomima repetiu-se na tarde soalheira de domingo, entrecortada, uma ou outra vez, pelas contradanças bem ensaiadas, que se exibiam nos largos e nos cruzamentos das ruas, nesse longínquo início dos anos 60. As pessoas, agora, em vez de rirem, paravam a apreciar o rigor gestual e o espetáculo fisionómico do violinista fictício. Inácio, não faltou, mas começava a deixar de ter piada, tão deprimente era a sua cara, chorando e implorando para que Plantão parasse de tocar.
Segunda-feira fez-se intervalo nas brincadeiras, exceto Plantão que passou a tarde “a ensaiar” na berma do jardim. Inácio não apareceu. Foi visto a vaguear, de olhar alucinado e mãos nos ouvidos, pelo caminho enlameado de uma ermida dos arredores.
Terça-feira, Plantão foi a grande atração do Entrudo da vila. Parado e aprumado no centro do largo principal, revestido de uma dignidade que metia respeito, deu o concerto da sua vida. Exibia tais meneios de corpo, tal virtuosismo de gestos e expressões, que só faltava mesmo ouvir-se a música. No entanto, um ex-sargento que tocara na banda da Armada, disse que reconhecia uma das músicas que Plantão parecia tocar. Foi a apoteose. Toda a tarde Plantão tocou para quem o quis ver. De Inácio, nem sinal. 
Quando as vizinhas se encaminhavam para a missa das sete, já em quarta-feira de cinzas, depararam com Inácio caído junto à porta da igreja a esvair-se em sangue. De cada ouvido ensanguentado, sobressaía uma cavilha de violino.

Joaquim Bispo

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Imagem: Amadeo de Souza-Cardoso, Música Surda, c. 1914–1915.
Coleção Particular [Até 26/2/17, no Museu do Chiado, Lisboa]

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(Este conto foi publicado no número 26 da revista literária virtual Samizdat, de março de 2010.)
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10/01/2017

Ano Novo — Vida Nova!


É a noite de 21 de dezembro — a mais longa do ano que vai terminar em breve. No silêncio do seu quarto de solteiro, Luís fuma, embrenhado numa meditação encorajadora. Pressente-se o ânimo cósmico da mudança de ciclo, como promessa de renovação. Observando, absorto, o fio de fumo do cigarro, Luís toma a decisão. Inabalável:

«No próximo ano é que é. Começo logo no dia 1. Não fumo mais. Ou bem que tenho vontade própria ou não. Estou farto de que me chamem a atenção para não fumar aqui, nem ali, nem em lado nenhum. Sinto-me discriminado, excluído, insultado. E os que já fumaram são os mais fundamentalistas. Não sei que raio de mecanismo psicológico é que os afeta. Será porque antes se consideravam perseguidos como eu me sinto agora? Será que eu também vou passar a maçar os outros por estarem a fumar num lugar onde, eventualmente, não se deve fumar?»

«Há pessoas que são torcidas e maldosas. Lembras-te, Luís, quando estavas a jantar sozinho no balcão corrido daquele snack-bar? E aquela velha que entrou — tica, tica, tica, tica — naquele passinho miúdo? Tinha as mesas quase todas vazias. E ao balcão só estavas tu e mais um casal. Pois a malvada velha atravessou o estabelecimento todo e veio sentar-se ao teu lado. E apenas se sentou, virou-se para ti, lembras-te?, e vai de dizer que ali não se podia fumar, e que não tinha que estar a levar com o fumo do teu cigarro, e frito e cozido. Não há paciência!»

«Este ano tem de ser Luís! Custe o que custar. Eu sei que é difícil, sei-o bem. Há três anos que andas nisto: a tentar fumar pouco e não consegues. Fizeste enormes progressos, reconheço, mas falta o rabo, que é o mais difícil de esfolar. Começaste por vinte minutos. É pouquíssimo. Mas, antes de tentares fumar pouco, havia situações em que apagavas um e acendias outro. E, se estavas muito concentrado ao computador, chegavas a acender um, com outro ainda a arder no cinzeiro. Durante uns segundos meditavas nisso. Mas adiavas uma decisão que iria mexer contigo.»

«Há uns cinco anos, chegaste a estar três meses sem fumar. Lembras-te como de repente voltaste a sentir os sabores da comida e da bebida — intensos — e os cheiros, tantos e tão ricos, e de que já te tinhas esquecido? E te apercebeste de como cheiravam as tuas roupas? Já para não falar da centena de euros que de repente te sobravam e que orgulhosamente gastaste em mimos para ti, que bem merecias! Mas, depois, as contrariedades da vida… És muito sensível à tristeza e à frustração. É nessa altura que precisas de um cigarro. Precisar mesmo. Há pessoas já conversaste com muita gente sobre este assunto cujos momentos fatais são aqueles em que se sentem bem, aconchegados no calor do grupo de amigos. Beberam um café, a conversa está boa… Para culminar... um cigarro. E então se meter álcool… Quem pode aguentar um cocktail num ambiente descontraído, rindo com os amigos, sem puxar por um cigarro?»

«Começaste por vinte minutos. Punhas o telemóvel para tocar de vinte em vinte minutos. Era fácil. A cada semana aumentavas cinco minutos. Em dois meses chegaste a intervalos de uma hora. Aí, já custava. Mas foste forte e disciplinado. Às vezes, parecia que nunca mais passava o tempo. Sacavas amiúde do telemóvel para consultar as horas. Finalmente, chegava o momento de fumar. E relaxar. E andaste com este ritmo uns dois anos. Já só fumavas menos de um maço por dia. Já era melhor. Mas ainda tinhas expetoração negra de manhã. E catarro. E as pontas dos dedos amarelas. E ainda sentias que te cansavas mais do que o devido, se tinhas que subir umas escadas mais depressa. Começaste a sentir menos respeito por ti próprio. Que raio, não teres força de vontade para fumar ainda menos! Então, deste a arrancada final pensavas tu. Voltaste a aumentar o intervalo. Em cada semana acrescentavas um quarto de hora. Em pouco tempo chegaste às três horas de intervalo. Voltaste a sentir-te orgulhoso e auto-confiante. Já só fumavas uns seis cigarros por dia. O pior era o fim do dia. Era difícil ires deitar-te sem fumar um último cigarro. E não ias esperar que chegasse a hora. Quebravas ali, excecionalmente, o esquema. Fumavas e relaxavas, e ficavas um pouco a saborear o momento. E, de repente, tinha passado mais uma hora… e não era fácil adormecer sem fumar um último cigarro… E neste ciclo vicioso fumavas três ou quatro.»

«Mas agora cansaste-te. Agora não vais vacilar. Arquitetaste o teu plano, meticulosamente, sem dizer nada a ninguém. Estás decidido. A 31 de dezembro fumas o último cigarro. E nunca mais lhe vais pegar. Sabes bem que nunca estarás curado. Serás sempre um convalescente, um viciado em fase de não-consumo. E ressaca. Sabes que, se deres uma “passa”, podes voltar a fumar tanto ou mais do que fumavas antes. Sabes que o teu corpo, as tuas células em carência, vão inventar todo o tipo de argumentação para te levarem de novo ao consumo. Não vais aceitar nenhuma justificação. Não serias tu a falar, mas a carência. Agora, estás bem alerta. Pensaste em tudo já há muito tempo. Tomaste a decisão. Inabalável.»

Luís está decidido, mas... será que consegue superar a última prova, a do amor?
Ele ainda não sabe, mas, na noite de Natal, o pai vai-lhe oferecer uma cigarreira em aço gravado, distinta; a mãe, uma boquilha equipada com um filtro especial para reduzir a nicotina; a irmã, um cinzeiro em porcelana; e a namorada vai-lhe fazer a surpresa daquele isqueiro Ronson eletrónico em plaquê que uma vez tinha cobiçado!
Joaquim Bispo

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Imagem: Otto Dix, Autorretrato, fumando, 1912.

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(Este conto foi publicado no número 12 da revista literária virtual Samizdat, de janeiro de 2009.)
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10/12/2016

Pouca sorte


Há dias em que um homem não devia sair de casa; o problema é que só o sabe tarde de mais, como bem se lamenta o meu vizinho António, que me contou o que se segue:

Foi aos Correios levantar uma encomenda e deu de caras com um antigo colega da Secundária, a quem na altura toda a gente chamava «Fosquinhas». Feitas as saudações e as manifestações de regozijo adequadas a um desencontro de mais de vinte anos, António fez a pergunta que o perdeu:
Então, vai tudo bem contigo?
Gustavo, o amigo, desforrando-se de um longo jejum de ouvintes complacentes, sorriu tristemente, antes de desenrolar o seu manto de frustrações e infelicidade:
Sabes lá?! Não tenho sorte nenhuma. Tudo me corre mal.
Não me digas! Não tens trabalho? — preocupou-se António.
Tenho, mas mal dá para sobreviver. Sou o responsável pela fotocopiadora do meu serviço...
Mas isso deve dar um ordenado muito baixo! Não tens tentado progredir?
Aquilo lá é um covil de mafiosos. Fazem o joguinho só entre os amigalhaços.
Mas, tens concorrido? Ou nem concursos fazem?
Concorrer? Para quê? Está tudo cozinhado. Uma vez experimentei, mas disseram que eu não tinha perfil.
E tu, tens-te valorizado? Voltaste a estudar? Fazes cursos profissionais?
Tenho lá dinheiro para isso!
Mas o teu serviço não faz cursos de atualização e aperfeiçoamento?
Falaram-me nisso duas vezes, mas já sei como é. É só para justificarem meter o sobrinho do chefe ou o primo da secretária. Para fantochadas dessas não contem comigo!
António começava a ficar sem ideias para melhorar a vida do amigo.
Tens filhos, casaste?
Sim, casei, mas não correu bem. Seis meses depois de casarmos, ela voltou para casa da mãe dizendo que «preferia não voltar a ver homem algum, do que viver com um falhado destes». Diz-me se isto não magoa! A minha vida é um vale de lágrimas. Mas ela tem razão, eu não presto — choramingou Gustavo.
António sentiu-se desconfortável com o amigo a lacrimejar à sua frente. Olhou em volta a medir o impacto nos presentes.
Olha, Gustavo, anda daí apanhar ar. Claro que tu tens valor, toda a gente tem.
Não sei, António. Os outros passam-me sempre à frente. Nasci para sofrer.
Nada disso. Só precisas é de um empurrãozinho. Amanhã podes ir à baixa, aí às dez horas? Vai ter comigo que eu vou ver o que se pode arranjar.

No dia seguinte, Gustavo apareceu às dez e meia.
Eh, pá, desculpa. Não estou habituado aos transportes cá para baixo.
Tudo bem. Olha, estive a falar aí com um diretor, disse-lhe que eras um gajo porreiro, a ver se te arranjava qualquer coisa para começar, mas que fosse melhor do que responsável da fotocopiadora. Ele disse que estão a precisar de um operador, só para meter dados, para já. Sabes Excel? Aquelas folhas de cálculo do Office — especificou António, ao ver a cara de incompreensão do amigo. — Informática…
Ah, não; nunca liguei a computadores.
Não faz mal, eu dou-te uma ensaboadela. É muito intuitivo. Não podes meter férias lá nesse emprego para vires uma semana à experiência?

Enquanto Gustavo não conseguia um tempo, foi aprendendo uns rudimentos de Excel no computador do amigo. Quando ia lá a casa, tecia sempre comentários elogiosos às pinturas de António, que este tinha espalhadas pela casa.
Tu és genial! Eu também gosto de pintura mas não tenho jeito nenhum.
Já experimentaste alguma vez?
Sim, uma vez comprei umas aguarelas no supermercado e estive a pintar, mas saiu uma borrada…
Mas, se gostas, porque é que não vais para um desses cursos de pintura, que até as juntas de freguesia têm?
Isso é um dom. Ou se nasce com ele ou não.
Olha que eu melhorei bastante nesses ateliês. Dizem que uma obra é muito mais transpiração do que inspiração. O jeito melhora com a prática. E as técnicas ajudam.
Ná, não é para mim. Eu escrevo é uns poemas e uns contos. Já tenho uns sete ou oito. Estão lá arrumados numa gaveta.
A sério? Gostava de ver isso!
Não, não! Não estão grande coisa. Não tenho coragem de os mostrar a ninguém. São só para mim.
Se quiseres publicar, terás que os mostrar a alguém… — ironizou António. — E escrever muitos mais. Os escritores conhecidos dizem que escrevem todos os dias.
Gostava de ser escritor, mas não tenho muita pachorra para escrever. E, mesmo quando estou entusiasmado, às vezes bloqueio, por não saber muito bem o que hei de escrever e como.
Mas, se achas que gostas de escrever, porque é que não investes nessa área? Mesmo que seja só para teu prazer. Quando se anda satisfeito, até a vida profissional corre melhor. Há muitos livros práticos, há workshops, há clubes de leitura. E há as faculdades. Não fazem escritores, mas fornecem ferramentas muito importantes.
Tirar um curso? Estás parvo! Não tenho dinheiro para isso, nem estou para passar anos a polir os bancos da universidade só para escrever. Quando quero, escrevo, mesmo que não saia muito bem. Acho que é uma questão de sensibilidade, mais do que técnicas ou conhecimentos.
Eu só queria ajudar! — arrependeu-se António.

Uns tempos depois, Gustavo chegou a fazer a tal experiência na empresa onde António trabalhava, mas não passou de uma semana. O diretor, de mãos na cabeça, veio ter com António, queixando-se que o amigo ficava parado a olhar para o ecrã, que introduzia dados trocados, que não tinha apetência por conhecer novas funcionalidades do programa. Pediu desculpa, mas que assim Gustavo não podia ficar.
Quando António comunicou a decisão ao amigo, este mostrou-se muito abatido:
Comigo, corre sempre tudo mal. Eu não te disse que não tenho sorte nenhuma? Felizmente, posso voltar para o mesmo trabalho com a minha fotocopiadora, que essa conheço eu bem. Mas já me disseram que o meu chefe soube desta escapadela e me vai cortar as horas extraordinárias. Já viste a minha pouca sorte?!
Eu só queria ajudar! — desculpou-se António com ar pesaroso, mas por dentro ria impiedosamente.

Joaquim Bispo

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Imagem: António Dacosta, Serenata Açoriana, 1940.
Centro de Arte Moderna / Gulbenkian, Lisboa.

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(Este conto foi publicado no número 25 da revista literária virtual Samizdat, de fevereiro de 2010.)
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10/11/2016

A Vida Continua


Os cemitérios de Lisboa são lindíssimos. Têm avenidas bordejadas de “palacetes” e esculturas, muitas flores e algum silêncio. Ostentam uma arquitetura que, ao longo dos tempos, tem refletido a arquitetura dos vivos. E mais bem preservada do que a da cidade dos vivos. É que, nessa cidade dos mortos, não é necessário deitar jazigos abaixo para construir agências de bancos e de companhias de seguros. Ali, não abundam os clientes financeiros.
Veem-se jazigos de todos os estilos: neogótico, neomanuelino, neoclássico, “casa portuguesa”. Uns, imponentes, a refletir a importância do defunto em vida, outros, discretos, a exaltar a humildade devida ao novo estado. Alguns são autênticas esculturas arquiteturais.
É nos cemitérios que existe, talvez, a maior concentração de escultura por hectare. Alguma, de grande qualidade. Além de chorosos anjos, escondendo a face, encontram-se, também, muitas alegorias da dor e da perda, adequadamente acompanhadas de fustes de colunas partidos ou troncos de árvore decepados precocemente. Lápides verticais ostentam delicados rendilhados florais em alto-relevo ou símbolos adequados à profissão e ao estatuto do finado, em vida.
Uma deambulação por um silencioso cemitério lisboeta é, quase de certeza, mais tranquilizante e culturalmente mais estimulante do que um passeio por muitos dos jardins da cidade.
Estes cemitérios têm ritmos próprios. Cada talhão de enterramento passa por uma fase de alvoroço, com a abertura de novas covas e montões de coroas de flores em cima de montes de terra, que progride, durante umas poucos semanas ou meses, em linhas paralelas ao longo do talhão. Aos poucos, o campo de linhas revoltas vai evoluindo para um prado de aspeto arranjado, pincelado de lajes de mármore e floreiras multicoloridas. Chega um momento em que todo o talhão se arrumou e mantém um aspeto muito estável durante cinco anos, com os mármores alinhados, entremeados por um ou outro simples monte de terra dos defuntos de menos posses, cada um com a sua floreira. Às vezes, com uma ou outra placa de mármore com inscrições prosaicas, ou menos esperadas, como “Grand-maman — Je ne t’oublierais jamais”, a refletir o fado da emigração.
Quase sempre, esses talhões de meio hectare de área estão circunscritos por um muro quadrilátero, de gavetas de cimento embutidas, nas quais, mais tarde, serão depositados os pequenos caixões contendo apenas os ossos lavados e desinfetados dos corpos que tenham atingido o estado necessário ao levantamento.
Estar sozinho num desses talhões, a observar a extensão florida agitada pela aragem e a ouvir o concerto da vibração das centenas de pequenas floreiras metálicas, faz qualquer um sentir-se num universo distinto do nosso. São várzeas artificiais, prados de flores naturais de caules cortados à medida, e de flores de plástico, inseridas em floreiras, numa densidade e numa multiplicidade de cores que nem a Natureza produz.
Depois, passados os cinco anos da curtimenta, os talhões começam a ser escalavrados pelos levantamentos avulsos, que deixam uma paisagem desoladora semeada de crateras retangulares por entre as campas intactas, cujos ocupantes se atrasaram a atingir a decomposição total. Passado algum tempo, tudo recomeça e o talhão recobra a “vida” florida — se de vida podemos falar —, para mais um ciclo de enterramentos.
Aos domingos, na Ajuda, os ciganos instalam-se todo o dia no cemitério a honrar os seus mortos. Pintaram de branco a moldura da gaveta onde está o caixão do familiar falecido e o chão do passeio por baixo da gaveta. Mantêm-se por ali a limpar a gaveta, o caixão, o pano que o tapa e depois ficam simplesmente sentados, de porta da gaveta aberta com várias fotografias do defunto expostas e jarrinhas de flores sobre panos bordados brancos.
Os outros vão menos ao cemitério. E tanto menos quanto maior o inexorável apagamento da dor que a passagem do tempo provoca. As floreiras deixam de ter flores naturais e ficam-se pelas de plástico que “duram mais tempo”. Não muito, que também estas são, às vezes, levadas pelo vento ou tão só carcomidas por chuvas e sol. No fim do verão, a maioria das floreiras está vazia, ou tem uns pedaços de flores ressequidas, quando muito.
Perto do Dia de Finados — 2 de novembro —, os cemitérios enchem-se, numa romaria de mãos carregadas de flores. Cumpre-se a “obrigação” e o ritual. Nessa ocasião, são sobretudo os muros repletos de gavetas que registam uma primavera fora de época. Veem-se pessoas de todas as idades encavalitadas nas escadas metálicas que os cemitérios disponibilizam para aceder às posições mais elevadas.
Por entre o bulício respeitoso dos que levam um rumo determinado, percebe-se que há quem ande perdido e é possível ouvir pelas alamedas discussões em surdina sobre a localização das gavetas que procuram. Quem não visita esquece e há quem deixe passar muito tempo. Até por defesa.
Pode ler-se, aqui e ali, nas portinhas: “O tempo passa — A saudade aumenta”. Ou outra mentirinha parecida, crida com toda a sinceridade. O tempo passa e tudo faz passar, felizmente. Ninguém conseguiria viver, sempre, com a dor dos primeiros dias; ninguém conseguiria aguentar, ano após ano, as saudades sentidas no primeiro.

Joaquim Bispo
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(Esta crónica foi publicada no número 11 da revista literária virtual Samizdat, de dezembro de 2008.)
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10/10/2016

Um assassino online


Quando os inspetores chegaram ao local do crime, encontraram a jovem aspirante a escritora de cabeça tombada sobre o teclado do computador e, no chão, uma poça de sangue que escorria do flanco esquerdo, onde um abre-cartas se mantinha espetado.
Bela encrenca temos aqui — desabafou o inspetor Magalhães. — Ainda estava à espera que fosse um suicídio, mas com a lâmina neste ângulo não é viável.
E para homicídio também não está fácil — continuou o subinspetor Barbosa, denunciando a completa concordância com o chefe. — A porta não foi arrombada, não há sinais de luta e o namorado está no Porto.
Bem, vamos procurar impressões digitais, embora me pareça que não vamos ter sorte. Procura nas portas, que eu vejo aqui na mesa do computador.
Calçaram as luvas de látex e iniciaram a pincelagem dos objetos mais óbvios. Os resultados eram desanimadores. De repente, Magalhães chamou:
Barbosa, vem cá ver isto. Vê lá se percebes que raio é que esta fulana estava a escrever neste site.

O parceiro aproximou-se e deparou com uma sequência de símbolos bizarros no ecrã.


 Hum… Não há nenhuma língua com este alfabeto; eu não conheço. Hum… espera, pode ser uma daquelas fontes de caracteres esquisitos. Experimenta copiar isso para um documento Word.
Boa! — animou-se Magalhães, congratulando-se por ter um parceiro perspicaz e experiente em informáticas.
Agora, altera a fonte, ali, naquela janela das fontes, à esquerda. Pode ser para Times.
Ok, ok, não sou nenhum tosco. Pronto!

Um de cada lado da morta, debruçados sobre o ecrã, ficaram uns segundos a ler o pequeno texto descodificado:

Joaquim era doido por cassoulet, esse prato francês muito parecido com feijoada. Todas as quintas-feiras, se sentava pontualmente ao meio-dia e meio num pequeno restaurante de comida francesa, ali junto ao Hospital de São José. O Sr. Jacques Bergier, amante de romances policiais e impossibilidades, já lhe reservava o lugar e a dose.

Dәpois, Barbosa quәbrou o silêncio:
Achas quә isto nos dá alguma pista?
Não vәjo rәlação, mas, dә qualquәr manәira, amanhã vou falar com әssә tipo, sә é quә әxistә.
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Quando Magalhãәs chәgou à sәdә, vinha abrasado com calor. Largou o sobrәtudo numa cadәira ә afundou-sә numa әspampanantә chaisә-longuә.
Está um tәmpo әsquisito. Dә manhã parәcia quә ia chovәr ә agora әstá uma caloraça!
Então, o tipo? — pәrguntou Barbosa, sәm dәsviar os olhos do computador.
O rәstaurantә әxistә, mas o homәm não sә chama Bәrgiәr. Acho quә әla әstava a invәntar uma história. Já sabәmos quә tinha prәtәnsõәs a әscritora.
Olha, Magalhãәs, әstou aqui um bocado confuso. Pus aquәlә tәxto dәla no Idәntәxt ә obtivә rәsultados muito pәrturbadorәs. Aquilo não corrәspondә ao әstilo dәla. Não podә sәr dәla. Ә não o foi buscar à Nәt. O tәxto nunca әstәvә onlinә. Por outro lado, dәu-mә três rәsultados dә autoria possívәis. Dois әscrәvәm әm bloguәs ә o outro também tәm a mania quә é әscritor, como әla.
Como é quә é o nomә dәlәs? — intәrәssou-sә Magalhãәs.
Ora dәixa vәr: Artur Amiәiro; Filipә Arnaso; ә Joaquim Bispo, mas é possívәl quә sәjam todos psәudónimos. Ainda não fiz cruzamәnto dә dados, nәm pәdi informaçõәs às opәradoras dә Intәrnәt, mas dәsconfio quә sә trata da mәsma pәssoa.
Bәm, suspәito já tәmos, mas o móbil?
Aí é quә әstá! Әstou mәsmo confuso. Fui ao sitә ondә o Joaquim põә uns contos dә ficção ciәntífica ә dәscobri-nos lá. Nós; tu ә әu; Magalhãәs ә Barbosa, inspәtorәs. Somos pәrsonagәns num conto dele.
Achas mәsmo? Әntão әssә tipo é alguém quә nos conhәcә!
Hum… Acho quә é mais complicado do quә isso.
Barbosa mostrava-sә mәditativo. Parәcia ganhar coragәm para falar.
Tu acrәditas na Rәalidadә?
Әssa agora! Quә raio dә pәrgunta mais parva. Por quê?
Nova paragәm de Barbosa.
Há tantas coisas әstranhas na nossa vida. Não parәcә possívәl quә sәjam todas vәrdadәiras. Já alguma vez pensaste que, sә calhar, somos só pәrsonagәns dә alguma obra litәrária obscura?
Әstás parvo, ou quê? Andastә a fumar alguma coisa әsquisita?
A sério, Magalhãәs! Achas possívәis as fәrramәntas informáticas quә usamos? Achas possívәl quә әu ponha um bocado dә tәxto num programa informático ә saiba quәm o produziu? Quә sә consiga armazәnar 32 gigas numa pәn do tamanho dә uma unha do mindinho? Ә o mundo ondә vivәmos?; já achamos normal, mas pәnsa: achas possívәl quә әu puxә do tәlәmóvәl ә falә com alguém quә әstá do outro lado do mundo?; quә әu ponha um copo dә lәitә no micro-ondas ә әlә aquәça, sәm chama alguma?; quә um aparәlho no carro mә vá indicando, com mapas ә voz, quә әstradas hәi-dә tomar daqui para Ansião? Isto não é rәal, Magalhãәs; é mais conformә com um mundo de ficção ciәntífica.
Dәvәs tәr lәvado uma ovәrdosәMatrix. Vistә por aí algum gato әm rәpәat-play? — ironizou.
Әu não sәi, Magalhãәs, só tәnho dәsconfianças. Ә, sә quәrәs quә tә diga, comәço a dәsconfiar muito dә tudo. Achas normal havәr uma chaisә-longuә num gabinәtә da Polícia Judiciária? Isto parәcә-mә ambiәntә dә әscritor amador, quә invәnta cәnários sәm nunca tәr әstado na Judiciária. Ou әntão, pistas para lәitorәs atәntos.
Tu não mә bαrαlhәs! Әntão quә pαpәl әrα o nosso? Pәrsonαgәns? Quәr dizәr quә αndávαmos αqui αo mαndo dә um criαdor dә әnrәdos? Quә não tínhαmos livrә-αrbítrio?
É isso mәsmo, Mαgαlhãәs. Ә αcho quә sәi por quә o nosso criαdor nos colocou neste enredo — pαrα dәscobrirmos quәm foi o lәitor quә mαtou α rαpαrigα.
Lәitor? Queres dizer que é esse o desfecho do conto na Net? Já foste bisbilhotar o final?
Não. Não consigo ler o final. Αcho quә o tәxto do computαdor dα rαpαrigα é umα pistα, mαs não α quә pәnsαmos. Әssә tαl Jαcquәs Bәrgiәr tәorizou quә é impossívәl әscrәvәr um livro policiαl әm quә o criminoso sәjα o lәitor. Αcho quә o Joaquim әstá α tәntαr әscrәvәr o conto quә ninguém ainda әscrәvәu.
É αmbicioso!
Ou pαrvo.
Não blαیfәmәی, Bαrboیα!
Αh,“não blαیfәmәی"! Agorα já αcrәditαی? Pәloی viیtoی, é mαiی fácil “dαr-tә α voltα” com o mәtαfíیico, do quә fαzәr um idoیo cαir no “conto do vigário”...
Αdmito quә o trαnیcәndәntә mә pәrturbα.
Tαmbém α mim.
Por әیtα ordәm dә idәiαی, α liیtα dә یuیpәitoی tornou-یә bәm curtinhα. O αییαییino é um doی quә vão lәr o conto do Joαquim.
Quә әیtão α lәr, Mαgαlhãәی. Iیto é um conto. Ә o criminoیo әیtá α lê-lo nәیtә momәnto. یó prәciیαmoی dә lhә αrmαr umα cilαdα pαrα o prәndәr.
Como? Tәnی αlgumα idәiα?
یim, escutα. Com o Әchәlon — sαbes, o dos αmericαnos —, monitorizαmoی әm tәmpo rәαl todoی oی computαdorәی quә әیtivәrәm α uیαr әیtә conto. O próximo pαrágrαfo é umα αrmαdilhα pαrα o criminoیo ә vαi یәr dәciیivo pαrα α یuα cαpturα. یә әlә tәntαr lәr o quә әیtá әیcrito no espαço em brαnco abaixo, یәrá dәیcobәrto. Quαndo ele pαssαr o rαto sobre a cαixα em brαnco, ou copiαr pαrα Word o texto escondido nαquele espαço e αltәrαr α cor dα lәtrα pαrα یαbәr o que lá está escrito, αpαnhαmo-lo. A sequênciα de movimentos e α suα durαção são como que umα impressão digitαl e vão denunciá-lo.
Incrível! O que eles inventαm! Estou αnsioso por conhecer o desfecho.
Cαlmα, Mαgαlhães, αgorα temos que ser pαcientes. É só mαis um pouquinho. Olhα, olhα este! Acho que é este. Rәpαrα!

Muito bәm, lәitor! O fαcto dә tәr dәیvәlαdo әیtә pαrágrαfo moیtrα quә, αpәیαr do αviیo, não tәvә quαlquәr mәdo dә o αbrir. Iیto یignificα quә não é você o αییαییino. Como você bәm یαbiα. O vәrdαdәiro αییαییino já foi αpαnhαdo. Chәgou α әیtә ponto ә fәchou o site یәm lәr әیta parte. Só o verdadeiro αییαییino podia temer ser descoberto por revelar estas linhas, como foi insinuado atrás. Dәnunciou-یә α әlә próprio.
Oی inیpәtorәی Mαgαlhãәی ә Bαrboیα αprovәitαm pαrα lhә dәیәjαr muito boaی leituras. Ә continuә α confiαr noی bonی ofícioی dα Políciα Judiciáriα no combαtә αo crimә ә nα dәfәیα doی cidαdãoی.

E agora, Magalhães, ainda acreditas na Realidade?


Joaquim Bispo

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(Este conto foi publicado no número 21 da revista literária virtual Samizdat, de outubro de 2009.)

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