Mostrar mensagens com a etiqueta pintura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pintura. Mostrar todas as mensagens

10/01/2019

O segredo de Desdémona



Quando Yago chegou a casa, a mulher, Emília, apressou-se a dar-lhe as novidades:
Já se começa a perceber muito bem qual vai ser o aspeto final do retrato da minha senhora. Ela está deitada num leito, toda nua, e do alto tomba uma chuva de ouro. Ao lado da cama, há uma velha que tenta apanhar algum desse ouro. Mestre Ticiano diz que o conjunto representa a figura mitológica de Dánae, engravidada por Júpiter sob a forma de chuva dourada.
Nua? Excelente! — rejubilou Yago. — Quando volta Desdémona a posar?
De hoje a uma semana. A minha senhora não quer dar azo a que o marido desconfie de nada.
«Ah! Mal posso esperar para insinuar indignidades aos ouvidos de Otelo», congeminava Yago. «Se for bastante persuasivo, Desdémona será repudiada e não ficará em posição de ser insensível aos avanços do meu protegido Rodrigo.»

Uma semana depois, em casa do general Otelo, este desvenda a Yago alguns dos aspetos militares que o preocupam:
O Turco está cada vez mais atrevido. Veneza está a pontos de perder Chipre e até de deixar de ser senhora do Adriático. O Conselho está a ultimar uma aliança com o Papa e com Filipe II de Espanha. Se esta aliança conseguir reunir uma grande armada, partiremos, a confrontar os asquerosos otomanos, nem que tenhamos de lhes dar batalha nas costas da Grécia. — Pensativo, continuou: — Não temo a batalha, mas constrange-me ficar tanto tempo longe da minha adorada.
Pode ir descansado, general, que sua esposa não se sentirá infeliz, isto é — gaguejava Yago —, mostrará o rosto choroso, mas certamente encontrará distrações, isto é, arranjará maneiras agradáveis de passar o tempo.
Meu bom Yago — lembrava Otelo —, ela ficará bem, com certeza, mas tu irás comigo. Não te esqueças que és o meu alferes.
Sim, claro, ficará bem. Disso não duvido... Ficará até muito bem...
Que queres insinuar? — espevitava-se o general.
Eu? Nada. Falei por falar. E jamais a minha boca se abriria para difamar a senhora da minha esposa — espicaçava Yago.
A maneira como falas parece indicar que algo menos honroso se passa. Pela obediência que me deves, dize: o que sabes? — impacientava-se Otelo. — E não temas pela tua esposa, que sempre terá fidalgas a quem assistir.
Se assim me intima — condescendia Yago, enfim no objetivo — só lhe posso confidenciar que Desdémona se tem encontrado com um velho, a quem se expõe como Deus a deitou ao mundo. Não sei por que o faz, se por lascívia, se por comércio.
Quê? — esbravejou Otelo, sentindo-se atraiçoado. — Pois ela entrega-se a outrem? Prova o que dizes ou despede-te da vida!
Não mate o mensageiro, senhor! Pergunte antes à sua amada aonde vai ela todas as sextas-feiras.
Sim, sim, manda já chamá-la, que quero esclarecer este caso!
É inútil procurá-la — devolvia Yago —, porque neste momento está ela a ser acariciada pelo olhar de Mestre Ticiano na Scuola Grande de S. Rocco. Parece que o Mestre tem predileção por corpos jovens e manifesta mesmo algum entusiasmo quando os seus pincéis acariciam a superfície da pintura, talvez fantasiando que acaricia a própria pele branca e sedosa de sua esposa.
Pintura? Ticiano? Mas, pelas bombardas de popa, o que é que o velho quer de minha mulher? — surpreendia-se o general.
Os velhos, às vezes, são os piores — aproveitava Yago. — Ele está a retratar vossa esposa como Dánae, engravidada pela chuva dourada de Júpiter. Isto não parece muito decoroso.
Oh, com mil raios da procela, que indignidade! Vou expor esse quadro na praça de S. Marcos, para que Veneza abomine essa devassa!

De regresso a casa, Desdémona vê-se confrontada com a ira do marido:
Muito folgo em te ver vestida — ironizou Otelo. — Tanto quanto sei, ainda há pouco oferecias o corpo à lascívia dos olhares de quem o deve conhecer melhor do que eu.
Desdémona quedou-se muda e de rosto perplexo. Olhou em volta à procura da aia, que lhe recusou o olhar.
Explica-me agora — continuou Otelo — por que te expões nua ao olhar de Ticiano!
Nua? — contrapôs Desdémona. — Nunca Mestre Ticiano viu o meu corpo. O meu rosto aparece num corpo nu, mas esse corpo foi o que preferi, num conjunto de desenhos e gravuras que Mestre Ticiano me deu a escolher, quando contratei a feitura do meu retrato. Só vou a S. Rocco para que ele retrate o meu rosto aplicado a esse corpo que escolhi.
Agora, era a vez de Otelo ficar sem palavras. Mas, logo quis saber:
Afinal, por que bizarria andas nessas andanças? Por quê, esse retrato?
Era para ser um segredo — explicou Desdémona, voltando a passar o olhar por Emília. — Vai fazer um ano que eu e tu nos unimos pela carne. Essa união do viço de uma jovem como eu, com a força de um deus como tu, frutificou. Estou grávida. Sim, grávida! — confirmou sorridente, perante o olhar assombrado do marido. — Quis fazer-te uma surpresa e oferecer-te uma imagem alegórica que evoque, todos os dias, esse primeiro encontro dos nossos corpos, e o que dele resultou. O tema de Dánae foi ideia de Ticiano.
Otelo ficou um bocado em estupor. Depois, berrou:
Yago! Estarás sempre na proa do barco dianteiro. Quero que os otomanos fiquem a conhecer as tuas feições. Podes precisar dessas amizades no Inferno!

Caprichosamente, quem não voltou da batalha foi Otelo, trespassado por uma bombarda turca. Desdémona, desgostosa, não resistiu à perda do seu amado. O seu corpo foi encontrado a boiar no Canal Grande. O quadro, no qual ela punha tanto empenho, acabou por ir parar a Madrid, oferecido por Ticiano a Filipe II, em agradecimento pelo apoio militar a Veneza.

Joaquim Bispo
*
Por seleção em concurso literário, este conto integra — páginas 118 a 120 — a 12ª edição (Nov./Dez. de 2018) da Revista LiteraLivre, em formato e-book: https://issuu.com/revistaliteralivre/docs/revista_literalivre_12__edi__o_498aa56f8063d4

*
Imagem: Ticiano, Dánae recebendo a Chuva Dourada, 1560–1565.
Museu do Prado, Madrid.
* * *


10/12/2018

— Natal é todo o ano!



Todo o ano? Qual Natal, pai, o dos nascimentos ou o das prendas?
O nosso, que não fazemos outra coisa senão presépios, anjinhos e outras figurinhas alusivas, em barro.
Estas meias-pinhas não têm muito que ver com o Natal…
Meias, não, Tiago. As metades de baixo que estás a moldar… Pressiona bem esse barro no molde, para não ficar com falhas! Dizia eu, as tuas metades mais as de cima, ali da tua mãe, unidas e retocadas por mim, fazem pinhas inteirinhas e, depois de irem ao forno, ficam bem pitorescas.
Hum!
É uma peça de preço acessível, para oferecer como gentileza nesta época. Não é um presente de marido para mulher ou de avô para neto, mas é uma boa ideia para oferecer entre colegas de trabalho, ou entre amigas. Como sabes, há até empresas que as compram às dezenas para acompanhar outras prendas aos empregados.
Sim, eu sei, não é a primeira vez que venho ajudar; mas o que é que têm que ver com o Natal?
Tiago, o Natal reteve muitas das práticas das festas pagãs dos antigos, para festejar o solstício do inverno. Mantém uma grande ligação ao campo, à floresta. E pinha lembra floresta. Não é, Teresa?
Com certeza. E fogo. Sequinha, é a melhor acendalha que há. Nas aldeias, ainda hoje se acendem grandes madeiros, no adro da igreja. Já viste, lá na Amieira, o povo todo à volta da fogueira na noite de Natal! Pinha, fogueira e Natal andam associados.
E essas bolinhas?
Azevinho. Algumas pessoas também ornamentam as casas com ele, quer as ombreiras das portas, quer as lareiras e as mesas. Estas bagas, que hão de ser pintadas de vermelho, e estas folhas, aqui em cima da pinha, são de azevinho.
Salvo seja, mãe!
Olha que não estão nada más! Zé, tens aqui mais seis.
Aonde é que vamos passar o Natal, este ano?
Então, vamos à Amieira! O ano passado foram os tios que vieram cá…
À Amieira?! Ganda seca! Porque é que não vamos Algarve?
O Natal é a festa da família, Tiago. Se não estivermos reunidos nesta altura, só nos vemos nos enterros.
Tiago, esvazia bem essa metade! Se o barro ficar muito grosso, estala na cozedura.
Fogo! Os tios só me oferecem livros com histórias que não interessam nem ao Menino Jesus.
Se calhar não te fazia mal nenhum lê-los, em vez de estares sempre agarrado à consola de jogos.
Bela consola, esta! Estou todo consolado! Já deito pinhas pelos olhos!
Tiago Manuel! Não menosprezes este trabalho. Cada uma rende pouco, mas se vendermos seiscentas, como no ano passado… Dão mais do que meia dúzia de presépios como aquele ali, que já me leva uns cinco dias de trabalho. Ali, debaixo daquele pano húmido! A propósito, lembras-te de a tua mãe dizer que não era muito lógico o pastor, que vai oferecer o seu presente ao Menino, levar uma lebre no braço?
Sim, até apostaste com ela um lanche na pastelaria. As apostas forretas do costume! O que é que tu dizias, mãe?
Que fazia mais sentido ser um cabrito ou um borrego. Se é um pastor…
Pois! Mas o que me parecia ver na estampa da Adoração dos pastores era uma lebre. No domingo de tarde, enquanto estavas para o cinema, eu e a tua mãe fomos de propósito ao Museu de Arte Antiga tirar as teimas. Perdi! Sempre me tinha parecido uma lebre. Realmente, ver o quadro do Gregório Lopes, ali mesmo à nossa frente, é outra coisa! Fiquei convencido de que é um cabrito. Mas deve ser de uma raça que agora não é vulgar.
Não ganhei grande coisa nessa aposta. Se fosse o Euromilhões! Zé, o que é que tu gostavas que eu te desse, agora no Natal, se me tivesse saído muito dinheiro?
Uma autocaravana.
Assim, levas uma camisola, oh-oh!
Eu quero uma viola elétrica.
Para quê? Tu não sabes tocar!
Como é que eu posso aprender? A ver telediscos?
Já tens uma acústica, de madeira.
E toco! Mas a música agora tem de ter amplificação e encher o espaço.
Era só o que nos faltava — barulheira. Eu gosto pouco de barulho.
Então um leitor de mp4. Com auscultadores.
O que é que achas, Teresa?
Eu não me importo. Só tenho medo que ele fique surdo como o filho do vizinho. Andava sempre com aquilo nos ouvidos; nem dava por ninguém. E ao teu irmão, o que é que havemos de dar?
Isso é que é mais difícil! Ele já tem tudo. Também não lhe vamos dar uma moto de água, para andar na barragem, que é só no que ele fala agora!
Tem de ser uma coisa boa!
Mesmo que ele já tenha, mãe?
Uma camisola faz sempre falta. Mas das boas, que lá o frio até corta. Fancaria é que não. Como uns brincos de pechisbeque que o teu pai me deu uma vez.
Gostaste deles, confessa!
Eh! Estávamos casados só há um ano. Não ia dizer que não gostava ou que não queria. Estão para ali... Passa-me essa espátula, Tiago!
Já estou cansado…
E se fizéssemos uma pausa para lanchar, Zé?
Sabem o que me apetecia agora, com esta conversa? Uma filhó.
Ainda bem que falas nisso. Este ano, estamos a atrasar-nos. A ver se amanhã vou comprar farinha. No sábado que vem, amasso-as, e à noite fritamo-las.
Eu viro-as.
E eu espalho o açúcar por cima, posso?
Vai parecer o presépio.
Falta o burro e a vaca. Não querem convidar os vizinhos do rés-do-chão?
Tiago Manuel!
Tiago Manuel…

Joaquim Bispo
*
Imagem: Gregório Lopes, Adoração dos pastores, 1541.
Museu Nacional de Arte Antiga — Lisboa.

* * *


10/06/2015

O Retrato do Juiz



O pintor contemplava o retrato do juiz no cavalete e os seus olhos teimavam em fitar o olhar incisivo do retratado, muito firme, muito intenso. Parecia vigiar-lhe cada movimento. Era perturbador. O cliente já devia ter ido buscar o quadro, mas não havia maneira de aparecer. Júlio começava a ficar impaciente. Não que o dinheiro lhe fizesse muita falta, mas o olhar do retrato inquietava-o. Cada vez que o observava, parecia encontrar-lhe novos aspetos fisionómicos. Como se tivesse vida. Era, sem dúvida, das suas obras mais conseguidas.
Desde novo que, nas suas mãos, as telas se povoavam de figuras, umas cândidas, outras austeras, umas históricas, outras, que podíamos esperar encontrar na rua, representadas com uma naturalidade notável. Manobrava os pincéis com destreza, como se já tivesse muitos anos de prática. Quase sempre fazia as misturas das cores na paleta mas, em obras de maior arrebatamento, aplicava as cores puras diretamente na tela, em empastamentos de força cromática avassaladora.
Com o tempo, percebeu que o retrato próprio era das imagens que as pessoas mais prezavam e passou a especializar-se nesse género, adotando Columbano como referência. Ao seu “atelier” da rua de S. Paulo, em Lisboa, acudiam militares, magistrados, catedráticos, políticos. Cavalheiros graves em fundo escuro e damas vistosas em “toilettes” requintadas nasciam nas suas telas. Os olhares eram sempre inteligentes, a pose sempre nobre e elegante.
Ultimamente, a clientela já não abundava mas Júlio, de sessenta e três anos escorreitos, gostava do que fazia e tencionava continuar a trabalhar indefinidamente.
O último cliente fora este juiz. Tinha querido pagar a totalidade do trabalho, mas Júlio aceitara apenas metade; o resto seria pago contra a entrega da obra. Era um cliente fácil. Chegava sempre pontualmente às nove da manhã, no seu fato preto impecável, e mantinha-se firme na pose escolhida, durante as duas horas da sessão. Era de poucas falas, mesmo no pequeno intervalo que faziam a meio.
O rosto, que era a parte mais delicada e a que dava mais trabalho, foi nascendo, mancha a mancha nas carnações da face, pincelada a pincelada nos fartos cabelos grisalhos e nas sobrancelhas rectas e espessas. Ao fim de duas semanas, os olhos vivos e inquisidores do juiz acenderam-se na tela como se fossem reais. Pouco depois, Júlio disse ao cliente que só faltava rematar os fundos e que podia ir buscar o retrato daí a uns dias.
Tinha-se passado mês e meio e o juiz não aparecia.

O retrato estava muito realista. Júlio olhava-o e não conseguia evitar uma inquietação difusa. Começava a tornar-se uma obsessão.
Não ficara, do juiz, com mais que o nome e a morada, rabiscados num papel. Pensou em telefonar-lhe, mas das Informações disseram-lhe que aquela morada não tinha telefone fixo. Resolveu procurar o cliente, pessoalmente. Apanhou o comboio para Carcavelos e, lá chegado, foi perguntando até encontrar a casa do juiz. O que descobriu não podia ser mais perturbador.
Realmente, ali era a casa do juiz, mas ele não estava. Nem ele nem ninguém. Perguntando à vizinhança, soube que a casa estava abandonada desde que o juiz morrera, havia quinze anos.
Júlio deixou-se cair num banco de jardim e ali ficou, sem tomar conta das horas, mergulhado num assombro de que não sabia como sair. Se havia coisa com que não sabia lidar era com o sobrenatural.

Desde então que Júlio não pinta. No primeiro mês após a traumática revelação, só voltou ao “atelier” uma única vez. Tornar a encarar aquele olhar foi aterrador. Podia jurar que o juiz o olhava de cenho mais carregado, num misto de tensão e recriminação. Voltou a face da tela para a parede, mas Júlio continuou a pressentir a intensidade do olhar através dela. Sentiu medo. Saiu rapidamente, ofegante, sem saber o que fazer, sem vontade de voltar.
Em casa pensou que, se calhar, estava na altura de parar de pintar. Foi falar com um amigo, vizinho do “atelier”, que há tempos se propusera comprar-lho para alargar a sua loja de aprestos marítimos. Fizeram negócio, depois de o amigo aceitar ficar também com o recheio.
Júlio recolheu-se à sua pequena casa de Montemor, sobranceira ao vale de Loures, disposto a desanuviar o espírito, mas não o tem conseguido. Passa as tardes na varanda, de olhar perdido no horizonte. Não consegue tirar da cabeça o olhar mau do juiz. Nem consegue entender que intuito teve ele, ao voltar do outro mundo e lhe encomendar o retrato.

Por um desses dias, na sua casa de Azeitão, Armando Magalhães levantava-se da mesa e improvisava um pequeno discurso para uma dúzia de familiares reunidos à volta do almoço dominical:
Meus queridos, é com agrado e enorme orgulho que celebro convosco a próxima expansão da nossa pequena empresa. Foi um negócio bem sucedido de que todos saíram a ganhar, como gosto que sejam todos os nossos negócios. Ganhámos nós e ganhou o Sr. Júlio, que agora pode gozar uma bem merecida reforma. Era um grande artista. Vejam como ele captou o olhar austero do tio ― apontava Armando o quadro na parede. ― Aliás, quero fazer um agradecimento muito especial ao tio Jerónimo, pelo esforço que fez de ir todas as manhãs a Lisboa e assumir tão bem aquela personagem. Sem a sua ajuda, talvez não tivéssemos conseguido o que há tanto tempo pretendíamos: a expansão do nosso armazém de vendas e do nosso negócio. Obrigado tio! E faço questão, é claro, que fique com o quadro. Bem o merece! De qualquer modo, estamos todos de parabéns. Por isso, peço que me acompanhem num brinde.
Armando levantou um copo e pronunciou a fórmula habitual:
A família é a nossa fortaleza!
Todos se levantaram, de copo na mão, respondendo em coro:
À família!
O brinde terminou com uma longa salva de palmas, que comunicou, ao espírito de cada um, o enternecimento de quem se sabe participante no bom sucesso de um projeto comum.

Joaquim Bispo

* * *

(Este conto obteve um 3º prémio ex-aequo de um concurso de contos promovido pelo site Ora, vejamos…, em 2007, integrando a respetiva coletânea, e foi publicado no número 19 da revista literária virtual Samizdat, de agosto de 2009)

* * *
Imagem:
Columbano, Retrato de Abel Botelho [escritor], 1897
Lisboa, Museu do Chiado (Museu Nacional de Arte Contemporânea)

* * *